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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

ENTERREM MEU CORAÇÃO NO DELTA DO AMAZONAS


ENTERREM MEU CORAÇÃO NO DELTA DO AMAZONAS (1)
Agradecimentos ao companheiro Claudio Ribeiro que nos enviou essa matéria.

Paulo Ramos Derengoski*

Quando o primeiro homem branco pôs os pés no litoral brasileiro – há quase quinhentos anos – recebeu, dos indiozinhos que se aproximaram sorrindo, um curioso presente: um cocar de penas brancas.
Meio envergonhado, ele retribuiu a oferta – e lhes deu um pesado sombreiro negro.


Tinham início as dolorosas relações entre “selvagens” e “civilizados”.
Começavam alegremente, terminariam mal. Pois dos cinco milhões de índios que naquela época viviam entre o Oiapoque e a barra do Chuí – entre o rio Javari e o Cabo de Santo Agostinho – hoje restam cerca de cem mil, na sua maioria desorientados, alquebrados, insanos, desdentados, entorpecidos, abobados.

Foi na Amazônia que se desenvolveu a etapa mais dramática dessa destruição. Ali, em pleno Século das Luzes (2), um bando de molambentos se atirou sobre os indígenas, com o objetivo de se apossar de mão-de-obra barata para alimentar o monstro industrial da borracha.

A nação Waiká foi a primeira a receber o impacto. Sobre os Xirians caíram os abutres do ramo mercantil: mascates, comerciantes de armas e de cachaça. Os Guaharibos tiveram destruídas as habitações que constituíam a base de sua vida comunal primitiva – e se desintegraram.

O massacre mais brutal foi nos vales do Juruá e do Purus, onde outrora se encontravam as maiores reservas de seringueiras do mundo. As nações Pano e Aruaque foram rapidamente dizimadas. Índios altivos arrojavam a fronte ao pó, diante da imensa superioridade do branco, de sua inteligência diabólica. Entrava em cena um especialista em matar índios: o “bugreiro”, capanga de tocaias e traições, aborto tardio do bandeirante predador, deus do jaguncedo.

Nos extensos vales do Tapajós e do Madeira, os Torás e os Munducurus tentaram constituir uma barreira ao avanço do branco. Também o povo Parintin cobrou um alto preço (em sangue) pela borracha, que um dia foi extraída da floresta para fabricar os pneus das limusines das grã-finas da Cote d’Azur – ou dos carros de combate que iriam rolar nas areias do Ryff africano.

Carijós, Xucurus, Potiguaras: deles só resta a memória. Contra os Timbiras travou-se uma luta prolongada, porque os índios se refugiavam na Serra Geral, de onde raramente saíam. Mas, quando se tornava difícil destruí-los pela guerra, eram atraídos para a periferia dos povoados sórdidos, onde as doenças e o álcool se encarregavam do resto.

Algumas nações foram jogadas contra outras, como os Crahós, que se especializaram em escravizar seus irmãos, para vendê-los aos brancos em troca de cachaça e sal. Somente os mais ariscos e alçados conseguiram sobreviver, como os Gaviões, que até hoje se escondem pelas margens do Tocantins.

No coração do Planalto Central, a nação Carajá foi das mais judiadas: os que restaram são atração turística na Ilha do Bananal, onde sacodem a bunda para fotografias coloridas.

Os ingênuos Xerentes – que chegaram a transformar d. Pedro II em seu “deus” - também desapareceram do mapa. No centro do país, ainda restam alguns Caiapós e Xavantes, que só sobreviveram por serem ferozes e arredios. E os Bororos, outrora notáveis pela robustez física, entraram em decadência.

No vasto pantanal do Mato Grosso viviam os Mbaiá-Guaicurús, os primeiros índios do continente a utilizar o cavalo como montaria. Aliados aos canoeiros Poiaguás, eles dominavam vasto território. Na guerra do Paraguai, chegaram a constituir batalhões, que lutaram ao lado dos brasileiros para impedir a penetração Guarani ao norte do rio Apa. Pois desses altivos cavaleiros restam hoje pouco mais do que dez indivíduos arrasados.

Tristes trópicos: Cadiveus, Guanás, Otis, Terenas, todos se acabaram. Alguns tomados de impulsos místicos alucinatórios, se suicidaram – ou fugiram em direção ao mar, numa ânsia louca de liberdade. Outros terminaram mendigando à beira das estradas asfaltadas do progresso, como os Botocudos, os Maxacalis e os Pataxós. No sul, os descendentes dos Cainguangues e dos Xoklengues se subdividiram em pequenas tribos, para fugir à penetração dos colonos.
Erro fatal: “bugreiros” profissionais foram contratados para extermina-los até à morte.

Mas, não tenhamos ilusões... Apesar de todos os discursos (e artigos bonitos) estamos na antevéspera da descida do pano sobre a tragédia de nossas populações autóctones.

Os índios estão no fim. Em breve, deles só restará a memória: terão sido apagados como os poemas que o santo padre Anchieta – José do Brasil – um dia riscou nas areias das praias: varridos pelas ondas sempre fortes e renovadas do ódio, afogados pelo profundo mar da ignorância.

E quando raiar o milênio, quando alvorecer o século XXI entre as neblinas das florestas brasileiras, os índios já não poderão contemplar o brilho das espadas e a beleza dos estandartes.

Nem ouvir o tropel empoeirado e colorido da morte.

(*) Paulo Ramos Derengoski é jornalista e agricultor em Santa Catarina.

Publicado por “CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO” - Edição Nº 117 – Dezembro de 1988 – Seção “Opinião”

(1) Alusão ao livro “Enterrem meu coração na curva do rio”
(2) Século XIX
AMOR A NATUREZA
______________________________________
Quem é o dono da pureza do ar e do resplendor da água?

(Seattle, chefe da nação Duwamish, do Estado de Washington, em resposta ao Presidente Franklin Pierce, dos EUA, em 1855, depois de receber a proposta do governo de comprar o território de seu povo)

“O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra.
O Grande Chefe assegurou-nos, também, de sua amizade e benevolência. Isto é muito gentil de sua parte, pois sabemos que não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
Minha palavra é como as estrelas – elas não empalidecem.
Como poder comprar ou vender o céu ou o calor da Terra?
Tal idéia nos parece estranha.
Se não somos os donos da pureza e do frescor do ar ou do resplendor da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo reluzente do pinheiro, cada punhado de areia das praias, cada véu de neblina na floresta densa, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na memória do meu povo.
A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do Homem Vermelho.
O Homem Branco esquece a sua terra natal quando, depois de morto, vai vagar por entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do Homem Vermelho. Somos parte desta terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sulcos úmidos das campinas, o calor que emana do corpo de um mustang, e o Homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Por conseguinte, iremos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não vai ser fácil. Esta terra é sagrada para nós.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais.
Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos conta os acontecimentos e as recordações da vida de meu Povo.
O murmúrio d’água é a voz de meu pai, de meus antepassados.
Os rios são nossos irmãos, pois saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são nossos irmãos e teus também. Portanto, terás de dispensar aos rios a afabilidade que dedicarias a um irmão.
Sabemos que o Homem Branco não compreende o nosso modo de viver, os nossos costumes. Para ele, uma porção de terra é igual a outra, tem o mesmo significado que qualquer outra, porque ele é como um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga. E, depois que a conquista, ele vai embora, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e não se incomoda. Arrebata a terra das mãos de seus filhos, e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata a sua Mãe – a Terra – e seu Irmão – o Céu – como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes.
Sua voracidade arruinará a Terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos de vida, nossos costumes, diferem dos teus. A visão de tuas cidades fere os olhos do Homem Vermelho. Mas, talvez, isto seja assim por ser o Homem Vermelho um “selvagem” que de nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do Homem Branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto.
Mas, talvez, assim seja por ser eu um “selvagem” que nada compreende.
O barulho parece apenas insultar os ouvidos.
E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solitária do curiango* ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo ou de uma lagoa?
Sou um Homem Vermelho, e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de um lago e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o Homem Vermelho, porque todas as criaturas respiram e o compartilham em comum – os animais, as árvores, o homem.
O Homem Branco parece não perceber, nem sentir, o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido.
Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que ele sustenta.
O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro.
E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, como um santuário, um lugar em que o próprio Homem Branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores silvestres das pradarias.
Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra.
Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o Homem Branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um “selvagem” e desconheço que possa ser de outro jeito. Tenho visto milhares de bisões* apodrecendo nas pradarias, abandonados pelo homem branco que os abateu a tiros disparados de um trem em movimento.
Sou um “selvagem” e não compreendo como um fumegante cavalo-de-ferro* possa ser mais importante do que o bisão que, nós os índios, sacrificamos apenas para o sustento de nossas vidas.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito, porque tudo quanto ocorrer aos animais logo acontecerá com o homem. Tudo está interligado.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados. Para que tenham respeito à terra, ao país, conta a teus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo; que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa Mãe. Tudo quanto ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao Homem. É o Homem que pertence à terra. Disto temos certeza: todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Há uma ligação em tudo.
Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida; ele é meramente um de seus fios. Tudo o que ele fizer ao tecido da vida, a si próprio fará.
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias – eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes nações peles-vermelhas que viveram nesta terra, ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ficar isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa temos certeza - e que o homem branco venha, talvez, um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que O podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra, mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual Sua piedade, Sua compaixão, para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida e preciosa por Ele e causar-lhe dano ou ferí-la é cumular de desprezo seu Criador. Os brancos também passarão. Talvez mais cedo do que todas as outras raças.
Continua poluindo a tua cama e hás de acordar uma noite sufocado pelos próprios dejetos.
Porém, ao perecerem, vocês brilharão intensamente, com fulgor, abrasados* pela força do Deus que os trouxe a esta terra e que, por algum desígnio, alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas do odor de muita gente e a vista das velhas colinas obstruída por fios que falam*.
Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado.
Onde estará a águia? Irá acabar.
Restará dar adeus à andorinha e à caça.
O fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã.
Somos, porém, “selvagens”. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos. E por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometeste. Lá, talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois de o último Homem Vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós as amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos.
De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum.”

Notas
(*) 1) – Curiango – ave noturna
2) – Bisão – búfalo selvagem das pradarias norte-americanas
3) – Cavalo-de-ferro - trem
4) - “... Vocês brilharão intensamente, com fulgor, abrasados...” - Referência ao holocausto nuclear?
5) - “... fios que falam...” – Telégrafo
Traduzido dos fragmentos publicados na revista “Norsk Natur” 10 (1), 1974, Oslo, Noruega, e United Nations Environment Programme – Media Pack’76, por Roberto Tamara. Adaptado, também, da tradução de Irina O. Bunning.

A presente carta do Chefe Seatle ao Presidente dos EUA, considerada como a declaração mais bela e profunda já feita até agora a respeito da defesa da Vida na Terra, foi lida por Russell Peterson, Presidente do Conselho Federal de Qualidade do Meio-Ambiente, dos Estados Unidos, durante a reunião da Associação Americana para o Progresso da Ciência, em Nova York, em maio de 1975. Russel Peterson observou que “da nossa moderna perspectiva – 120 anos depois (Obs.: Hoje, em 2005, são 150 anos) - a carta de Seattle parece ser uma profecia expressiva, se não de todo desconcertante”. Este texto foi distribuído pela ONU no Programa para o Meio-Ambiente.
Sobre o assunto de terras dos índios, manifestou-se Michael Black no artigo “Enterrem meu coração em Wounded Knee”, publicado em “The Mother Earth News”, número 12, novembro de 1971, North Madison, Ohio, nos seguintes termos:
“... o índio percorre as suas terras tribais pacificamente e com simplicidade, com grande reverência pelo país e seus habitantes. Depois, vem o homem branco, aos tropeções, para alcançar os campos auríferos da Califórnia ou as ricas glebas dos altiplanos. O índio não passa de coisa irritante, de uma barreira incômoda que tem que ser removida e posta de lado, se é que se deve cumprir o destino manifesto. As boas terras são roubadas e designadas como reservas as terras que o homem branco desprezou ou já saqueou. Aqueles que não querem ir para as reservas são caçados impiedosamente. Às vezes, mesmo aqueles que haviam concordado em ir, são atacados (por exemplo, Sand Creck) e ocorrem massacres sobre os quais se estende o manto de segredo e que tornam My Lai (aldeia vietnamita destruída, junto com todos os habitantes, por um destacamento do Exército dos EUA, durante a guerra do Vietnã, cujo nome entra na história como símbolo da intolerância racial, política e ideológica) parecer obra de amadores. Uma vez dentro da reserva, o índio é freqüentemente forçado a se mudar outra vez, para mais longe da sua antiga terra natal, depois que é descoberto ouro ou se planeja uma estrada conveniente para a Costa Ocidental. Dentro da reserva, ele é alimentado com os restos de comida do homem branco pelos supervisores corruptos e inescrupulosos e as palavras de desabafo significam a morte”.

“É claro que o crime dos nossos antepassados é de um tipo como nunca antes o mundo chegou a ver. Não foi o crime de um louco só, como Hitler ou Stalin. Foi um crime perpetrado por uma nação inteira... uma nação que, não se contentando em subjugar pela força um povo, apressou-se a destruir um modo de vida inteiro...”

“Para uma nação poderosa como a nossa, conduzir uma guerra contra uns poucos nômades que lutam pela vida, em tais circunstâncias, é um espetáculo dos mais humilhantes, uma injustiça sem paralelo, um crime nacional dos mais revoltantes que mais tarde fará descer sobre nós ou nossos pósteros o julgamento do Céu” – Black Whiskers Sanborn, 1867. (Sanborn, junto com um punhado de outros, foi o amigo mais achegado que os índios em qualquer época tiveram no meio dos homens brancos).

“Vender a terra?... Por que não vender o ar, as nuvens, o mar imenso?”- Tecumseh, Chefe do povo Shawnee (1768-1813).

“Não se nos afiguravam como “selvagens” as grandes planícies abertas, as belas colinas onduladas e os rios serpenteando através do emaranhado da vegetação. Só para o homem branco, a Natureza não passava de sertões selvagens e somente para ele o país estava “infestado” de animais “ferozes” e de gente “selvagem”. Para nós tudo era mansidão.
A terra era generosa e por todos os lados havia bênçãos do Grande Mistério. Só quando vieram os homens barbudos do Leste e, com a fúria brutal, passaram a cumular de injustiças a nós e as famílias que amávamos, ela – a terra, tornara-se para nós selvagem. Foi quando os próprios animais da floresta começaram a fugir com a aproximação do homem do Leste que principiou para nós o Oeste Selvagem”. Cacique Luther Urso Em Pé, dos Oglala Sioux.

“Nós nos contentávamos em deixar as coisas permanecerem como o Grande Espírito as havia feito. Eles, os homens brancos, não se contentavam e até mudariam o curso dos rios se estes não lhes servissem como eram”. (Um índio Nez Percé).

Um comentário:

  1. Caro companheiro Honório,

    Parabéns por teu blog.
    Grato por publicar o artigo "Enterrem meu coração no Delta do Amazonas", do jornalista Paulo Ramos Derengoski, publicado originalmente em "Cadernos do Terceiro Mundo" (Editora Terceiro Mundo, infelizmente inexplicavelmente desaparecida), uma alusão a "Enterrrem meu Coração na Curva do Rio", de Dee Brown, a epopéia trágica dos Povos Peles Vermelhas, da América do Norte.
    Ao reler as palavras doridas do jornalista, não posso negar que as lágrimas brotaram...
    E "Amor à Natureza", do grande líder da nação Duwamish pele-vermelha, Seattle, que já principia com a sentença "Quem é o dono da pureza do ar e do resplendor da água"?
    Explêndida, cheia de emoções que invagem nossa alma e nos conduz incontinenti, pelo menos em pensamento, às pradarias norte-americanas tentanto visualizar como era a vida desses povos, cujos restos jazem confinados a reservas, que nada mais são do que campos de concentração, onde foram jogados à força das armas para não mais regressarem a seus territórios. Já li, inclusive, que o índice de suicídios entre jovens peles-vermelhas das reservas é muito alto, motivado pela imensa saudade de suas vidas de outrora, certamente relatada (tradição oral) pelos anciãos da tribo.
    Por último, solicitaria ao caro amigo que inserisse o título "AMOR À NATUREZA" antes da expressão "Quem é o dono do ar e do resplendor da água".
    Muito grato,
    Cláudio Ribeiro, de Casimiro de Abreu, RJ,

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